Sopa de letras #2

15/08/2017

Escrito por | Written by Bruno

I say reassuring, because airline food is all about comfort – nothing else. Unlike other meals, its taste is not in any way a function of the ingredients or the molecular changes effected by the introduction of heat (what the dull and sublunary call ‘cooking’), but solely a product of the diner’s own anxiety. The airlines know this full well, which is why they dish up a lot of food in many dinky little portions, and why almost all of those portions so closely resemble sedative potato dauphinoise – or anxiolytic Irish stew. The nervy flyer, wedged in between John Grisham fans and contemplating a death that for sheer, quotidian pathos – Died in that air crash, you say? On her way to a city break in Tallinn? Blimey, what a pointless way to go – is only equalled by slipping in the shower stall on a cake of Imperial Leather, will reach joyfully for the proffered tray because, after all, if you’re eating you must be alive, no?

Will Self e a comida de avião (quando ainda havia comida de avião e não apenas uma sandes - se estivermos com sorte), em The Unbearable Lightness of Being a Prawn Cracker, um dos melhores títulos de sempre na literatura gastronómica.

Vem a propósito, porque vamos de férias - voamos amanhã e espero voltar com receitas de Verão: amêijoas, inevitáveis, mas provavelmente mais qualquer coisa... Até já!

Pie de carne e queijo | Beef and cheese pie

14/08/2017

Escrito por | Written by Bruno



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Pie. Uma palavra inglesa simples que esconde uma grande variedade de comida - e há poucas coisas mais inglesas que uma boa pie. Em Inglaterra, dividem-se em dois grandes tipos - com puré de batata a envolver o recheio, ou com massa (folhada ou quebrada). São o equivalente aos nossos empadões e empadas, respectivamente, embora muitas vezes as pies com massa sejam autênticos guisados só com uma tampa de massa por cima, enquanto as nossas empadas tendem a ser mais secas por dentro. Eu, que não sou grande fã de empadão, fico-me pelas pies com massa.

É um tipo de comida que se encontra aqui por todo o lado, dos pubs aos mercados de rua, com inúmeras variedades de recheio - com carne e cerveja (as pies de Guinness são um clássico), com legumes, com veado, com bife e fígado (uma das minhas preferidas), ou mais simples, como esta receita, que faço de vez em quando e sai sempre bem.

A receita é adaptada de um livro chamado simplesmente Pie, escrito por Dean Brettschneider, que encontrei um dia em promoção numa loja e trouxe por impulso. Acabou por ser uma boa compra e um bom livro com ideias interessantes para recheios e tipos de massa.

Clover Club

12/08/2017

Escrito por | Written by Bruno



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Ao longo do tempo vamos encontrando livros que se tornam indispensáveis na cozinha, cada um com uma função diferente. Já aqui falei algumas vezes do The Perfect Scoop do David Lebovitz, a minha bíblia para gelados e sorvetes. Mas há tantos outros... Os absolutamente incontornáveis Cozinha Tradicional Portuguesa, de Maria de Lourdes Modesto ou O Livro de Pantagruel, de Bertha Rosa-Limpo, Jorge Brum do Canto e Maria Manuela Limpo Caetano, para quase tudo o que é português (e não só, no caso do Pantagruel). O Macarons, de Pierre Hermé. E, para cocktails, o completíssimo The Spirits, de Richard Godwin. Este último é uma colecção enorme de bebidas, escrito com um humor perfeito e com bastantes ajudas para quem está a começar.

Logo no primeiro capítulo, Godwin apresenta os "clássicos" - os 25 primeiros cocktails que toda a gente devia começar por experimentar (com o Martini à cabeça, claro, que há-de passar por aqui também). Em oitavo na lista, está este Clover Club, que é um favorito cá em casa - a combinação de gin, vermute, limão e framboesa é perfeita para um fim de dia (ou um começo de jantar com amigos) refrescante.

Algumas notas para iniciados: o vermute francês, ou seco, não é mais do que o vermute branco - em Portugal o mais conhecido será porventura o Martini Bianco (o Martini Rosso é vermute italiano, ou tinto - ou doce), mas há outros, como o Noilly Prat (o que eu normalmente uso). A calda de açúcar faz-se simplesmente levando 2 partes de açúcar amarelo para 1 de água ao lume (as quantidades exactas dependem da quantidade de cocktails que quiserem fazer), mexendo até o açúcar estar dissolvido - nessa altura retira-se do lume e deixa-se arrefecer.

Legumes assados no forno | Oven roasted vegetables

11/08/2017

Escrito por | Written by Bruno



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Coisas simples - tantas vezes as que resultam melhor. Este é um daqueles acompanhamentos que se faz num instantinho, que dá para aproveitar o que houver em casa, e que combina bem com quase tudo. Basta cortar os legumes, temperar e levar ao forno.

Simples e saudável!

Eton Mess rápido | Quick Eton Mess

10/08/2017

Escrito por | Written by Bruno



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Andava à procura de uma receita para uma sobremesa simples, rápida, e que pudesse ser servida assim, numa taça pequena ou num copo.

Encontrei este Eton Mess no Giraffes Can Bake, um site que tem muitas e boas receitas para experimentar (o link já está adicionado na lista ali ao lado, que tem vindo a crescer desde que comecei este blog).

O Eton Mess é uma das sobremesas tradicionais inglesas, à base de suspiro, natas e morangos. Diz a lenda (absolutamente falsa, como todas as boas lendas) que, num jogo de críquete no Eton College, um cão atirou ao chão a cesta de piquenique que tinha uma pavlova de morango para a sobremesa, tendo ficado a sobremesa completamente desfeita. Os rapazes não se importaram, comeram-na mesmo assim, e acharam que estava ainda melhor. Nascia assim o Eton Mess. Histórias à parte, é uma sobremesa simples de fazer, ainda para mais nesta versão, que fica pronta num instante e é um bom final para uma refeição.

Pêras bêbedas com creme de mascarpone e amêndoa amarga | Poached pears with mascarpone and bitter almonds liqueur cream

09/08/2017

Escrito por | Written by Bruno



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Ah, pêras bêbedas! Uma das minhas sobremesas preferidas e que andava esquecida há que tempos! Não sei bem porquê, mas lembrei-me delas e foi tanta a vontade que tive de ir comprar pêras e mascarpone para fazer esta receita.

Originalmente fazia um creme simples de mascarpone, só o queijo e açúcar, mas desta vez pareceu-me bem inventar um pouco. Amêndoa combina bem com pêras, por isso porque não pegar naquela garrafa de amêndoa amarga que está ali guardada e juntar um pouco? A ideia pareceu-me boa, e resultou bem. A quantidade de licor é pouca, mas suficiente para se notar o travo da amêndoa, a complementar bem as pêras.

E é justo - se as pêras estão bêbedas, então que o creme também esteja. Afinal de contas, beber sozinho nunca tem tanta graça.

Frango com mostarda | Chicken with mustard

08/08/2017

Escrito por | Written by Bruno



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Esta é um dos pratos preferidos cá de casa, e sai sempre bem. O molho é do outro mundo, com os sabores da mostarda, do bacon, da cebola e do tomilho a criarem uma combinação perfeita com o frango.

A receita é do David Lebovitz, publicada no livro My Paris Kitchen. No final da receita ele aconselha acompanhar com massa fresca, que é boa para absorver bem o molho - eu usei legumes assados no forno. Melhor ainda é terem um bom pão na mesa, que vai dar muito jeito para molhar no prato (ou mesmo no tacho!).

Tiramisù

07/08/2017

Escrito por | Written by Bruno



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A cozinha italiana é uma das minhas principais inspirações, desde que a descobri em Milão, onde trabalhei durante 10 meses, num projecto em 1999. Na altura eu era um pequeno selvagem - caramba, eu cortava esparguete com a faca! Lembro-me de deixar vários colegas italianos horrorizados ao verem-me cortar massa, o que para um italiano é algo tão mau - que digo eu? pior ainda! - quanto cortarem-lhes a própria mãe. Mas entretanto fui aprendendo algumas coisas: a enrolar esparguete no garfo, a fazer um risotto em condições - e a fazer Tiramisù.

Uso a mesma receita desde que a descobri, publicada no blog italiano Anice & Canella, que, infelizmente, já não é actualizado desde 2014. Tal como a Paoletta escrevia no post, receitas de Tiramisù há às centenas, e há discussões intermináveis sobre qual a forma correcta de o fazer - com ou sem álcool, com claras ou natas,... Na verdade, como em tantas outras receitas, não há uma receita-padrão, e as variações regionais são normais e bem-vindas. É essa variedade que torna a culinária mais interessante e surpreendente.

De qualquer forma, esta receita é simples e resulta sempre bem. Gosto especialmente dos pedaços pequenos de chocolate, que acrescentam textura e sabor. É raro encontrá-los noutras variantes, mas fazem bastante diferença.

Gago Coutinho

04/08/2017

Escrito por | Written by Bruno



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Há mais em comum entre cocktails e culinária do que parece à primeira vista. Há o lado óbvio de o cocktail poder acompanhar a comida, tornando interessante tentar procurar a combinação perfeita entre o que se bebe e o que se come. Mas, para além disso, há o lado de poder experimentar com diferentes ingredientes - não só bebidas, mas também caldas, fruta, ervas, e tudo aquilo de que a imaginação se lembrar.

Há cerca de dois anos que comecei a interessar-me por cocktails e a tentar fazer os meus em casa. É um processo criativo, interessante, relativamente barato (há um investimento inicial em algumas garrafas, mas a quantidade de álcool por cocktail é pequena, por isso o custo por copo é muito mais barato do que os preços que são cobrados em bares), e, enfim, fica-se com coisas boas para beber.

O Gago Coutinho é uma alteração minha de um clássico, o Aviation. O original leva gin, sumo de limão, licor Maraschino (feito à base de cerejas Marasca) e Crème de Violette. Como ainda não cheguei a esse extremo de dedicação, não me preocupei sequer em procurar este último ingrediente. Para além disso, em vez de Maraschino usei ginja de Alcobaça, a melhor de todas (não aceito discussões!), o que tornou o cocktail numa versão mais portuguesa do Aviation. Ora, Aviation em versão portuguesa... Gago Coutinho, claro. Pareceu-me o nome ideal. Não é um cocktail que nos faça atravessar o Atlântico, mas é suficientemente bom para tornar o fim do dia mais agradável!

Sorvete de manjericão com morangos em calda de limão | Basil sorbet with strawberries in lemon syrup

02/08/2017

Escrito por | Written by Bruno



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A ideia de um sorvete de manjericão pode parecer bizarra para quem nunca o provou, mas este é provavelmente o mais fresco sorvete que sei fazer. O manjericão e a lima resultam na perfeição, e combinam perfeitamente com os morangos.

Publiquei esta receita inicialmente no Cozinha Com Tomates, já lá vão oito anos, e ainda a faço exactamente da mesma maneira. Na altura, adaptei a receita do sorvete desta receita do La Tartine Gourmande, e os morangos estão no "The Perfect Scoop", o livro do David Lebovitz que é a minha bíblia de gelados.

Sempre que faço esta receita lembro-me que o David Lebovitz tem no livro um gelado de salsa. Quando passo por essa página acho sempre que nunca experimentarei fazê-lo porque... enfim... gelado de salsa? Mas a verdade é que se o gelado de manjericão é assim tão bom, se calhar devia mesmo tentar o de salsa. Um destes dias. Talvez.

Camarão com manjericão | Shrimp with basil

01/08/2017

Escrito por | Written by Bruno



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Para receitas simples e que resultam sempre bem, o meu autor de eleição é o Nigel Slater. Com uma escrita despretensiosa, receitas daquelas que parecem inventadas na hora olhando para o que há no frigorífico, mas com um bom gosto à toda a prova, os livros dele são uma maravilha para folhear de vez em quando. Um deles, o "Eat - The Little Book of Fast Food" é um dos meus preferidos. Quando não há ideias para o que fazer, basta abrir o livro ao calhas que a probabilidade é grande de encontrar qualquer coisa que apeteça logo provar.

Esta receita vem desse livro. É um simples camarão frito, com um molho de manjericão, que parece pesto mas não é, porque para ser pesto precisava também de alho e queijo. Assim, fica só camarão com manjericão, que em português até rima.

O sabor disto é óptimo. Faz-se num instante e é uma maravilha para petiscar num dia de Verão - melhor ainda se não for um Verão como o daqui, mas enfim, pelo menos não está a chover. Hoje.