İmam Bayıldı

06/02/2018

Escrito por | Written by Bruno



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Ainda hoje, quase 30 anos passados, nos referimos em família àquelas férias como “A Viagem”, assim mesmo, em maiúsculas. Foi uma verdadeira aventura - cerca de 40 dias a conduzir pela Europa fora, uma Europa muito maior e mais fechada em 1991 do que é hoje. O ponto mais longe a que chegamos foi Istambul, uma mistura entre Europa e Ásia, entre oriente e ocidente, que nos marcou de diversas formas.

Uma delas, que ainda hoje traz recordações, foi a comida. Quando estamos em família e nos lembramos d’A Viagem, é comum alguém recordar-se de uma refeição que fizemos em que não fazíamos ideia do que estávamos a comer (não é fácil perceber turco e não havia Google Translate para ajudar…) mas sabíamos duas coisas: não havia carne e era delicioso. Lembro-me de beringelas e sei que adorei. Não faço ideia se era este İmam Bayıldı ou outro prato qualquer, mas ficou-me sempre a ideia da cozinha turca ser diferente e muito interessante.

Foi também por isso que me apeteceu experimentar esta receita. Gosto de beringelas, mas não as uso muitas vezes - e um prato cujo nome significa “O Imã Desmaiou” pareceu-me ser uma boa oportunidade de voltar a cozinhá-las. Há duas versões sobre o nome do prato - uma diz que um imã turco gostou tanto deste prato que desmaiou ao prová-lo. A outra diz que o imã desmaiou ao aperceber-se da quantidade - e do custo proibitivo - de azeite que a sua mulher usava para cozinhar este prato todos os dias…

Investiguei várias receitas, mas acabei por seguir esta, do Yotam Ottolenghi que, não sendo turco, conhece a fundo este tipo de cozinha. É uma receita simples, mas só com coisas boas - beringela, tomate, pimentos, algumas especiarias, tudo cozinhado em bastante azeite. Simples, diferente - e capaz de fazer imãs desmaiar!

Favas com carne de porco e enchidos | Broad beans with pork and cured sausages

02/02/2018

Escrito por | Written by Bruno



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Eu sei, eu sei, não estamos exactamente na época das favas… Mas o congelador é o melhor amigo dos produtos portugueses para quem está noutro país - tínhamos congelado um saco de favas que a minha sogra nos trouxe durante uma visita no ano passado, e achei que estava na hora de usá-lo. Até porque todas as alturas são boas para um bom prato de favas!

Esta receita é basicamente a mesma que já fazia há quase 11 anos, quando a publiquei no Cozinha com Tomates - afinal de contas, em receita vencedora não vale a pena mexer muito, e esta fica óptima assim. A única grande diferença foi no ramo de cheiros - só arranjei hortelã e coentros, mas idealmente teria também juntado casca das favas e folhas de alho-francês. Se os tiverem à mão, juntem também.

Bolo de coco, amêndoa e mirtilos | Coconut, almonds and blueberries cake

30/01/2018

Escrito por | Written by Bruno



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Sweet, o novo livro de Yotam Ottolenghi e Helen Goh, é um daqueles livros que apetece comer. A capa, as fotografias lá dentro, tudo tem um óptimo aspecto - e a variedade de receitas é grande, de biscoitos a bolos, passando por gelados, cheesecakes e outros.

Um destes fins-de-semana “estreei” finalmente o livro. Era um daqueles dias de Inverno londrino, cinzento e chuvoso, em que não apetece ir à rua - a casa está quente, há um filme na televisão, há música na cozinha e o forno já está ligado, à espera. Esta receita foi a escolhida - um bolo sem grandes complicações, com bons ingrediente e ideal para aquecer o espírito.

Pudim Molotof | Molotof pudding

26/01/2018

Escrito por | Written by Bruno



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Tal como escrevi aqui, depois de ter publicado receitas de Bolo de Bolacha e Salame de Chocolate, faltava-me uma para completar a Santíssima Trindade das Sobremesas de Festas de Aniversário dos Anos 80 - o Pudim Molotof, claro está. E, antes que alguém me corrija, eu escrevo assim, Molotof, com 'f' no fim. Há alguma discussão sobre a origem do nome, e eu tomo por boa a que vem no Ciberdúvidas, que diz o seguinte:

O nome original deste doce é «pudim Malakof» e está relacionado com a guerra da Crimeia que decorreu em 1854 e 1855.

Malakof é o nome de uma fortaleza que protegia a cidade de Sebastopol. O general francês Pélissier tomou esta fortaleza e recebeu o título de duque de Malakof. É uma sobremesa de tempos de guerra, visto que é feita com claras de ovo. Por exemplo, em Portugal, é frequente fazermos este pudim para aproveitarmos as claras que sobram da receita do pão-de-ló, que usa apenas as gemas dos ovos.

Durante a guerra de 1939-45, notabilizou-se como ministro dos Negócios Estangeiros da URSS Vyacheslav Mikalovich Skriabine, dito Molotov na clandestinidade. Foi com este nome que passou a ser conhecido internacionalmente. Provavelmente por confusão com este nome, o povo português passou a designar também esta sobremesa por «pudim Molotov».


Seja como for, toda a minha infância este foi o pudim "Molotof", dito e escrito desta forma, e custa-me mudar para um 'v'. É suavizar o doce, como se lhe tirássemos o caramelo e parte do açúcar. Por isso, deixo-o ficar assim.

A receita que usei foi a da Dolce Rita (também ela adepta do 'f' no fim!). É uma receita muito simples, mas que requer algum cuidado na cozedura. O forno tem de estar à temperatura certa, e não pode ser aberto antes do tempo - se tudo for seguido à risca, fica óptimo.

Uma nota sobre as quantidades - a minha forma é relativamente pequena. Se usarem uma forma de Molotof normal, precisarão de cerca de 8 claras. Para ajustar as quantidades, basta usarem 30g de açúcar e 1 minuto de forno por cada clara - portanto, com 8 claras serão 240g de açúcar e 8 minutos de cozedura. Usando estas proporções, não deverão ter grandes dificuldades.

Satay singapurense | Singaporean satay

22/01/2018

Escrito por | Written by Bruno



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Há três anos, tive a oportunidade de visitar Singapura por duas vezes, em trabalho. Na última noite da primeira visita, segui a recomendação de um amigo e fui experimentar o Satay da zona do Mercado Velho (Lau Pa Sat). É uma experiência única - o mercado fica num edifício histórico, com mais de 100 anos, em pleno centro financeiro da cidade-Estado. Por dentro é uma área de refeições, com várias bancas de tipos diversos de comida - mas é por fora que vale a pena conhecê-lo. À noite, uma das estradas que circunda o mercado é fechada ao trânsito. Montam-se mesas e cadeiras ao longo da estrada e instalam-se as bancas de Satay. São várias bancas, todas elas com grelhadores a carvão, a preparar este prato típico asiático. Basta encontrarmos uma mesa, sentarmo-nos, fazer o pedido, de preferência com uma cerveja fresca a acompanhar, e deliciarmo-nos. Infelizmente, aquela era a minha última noite e não pude repetir - mas quando voltei a viajar pela segunda vez, fiz questão de lá voltar. E não me arrependi.

O Satay é um prato típico do sudeste asiático, provavelmente de origem indonésia, mas com variantes em vários países. Em cada um a receita é diferente, mas consiste geralmente em espetadas (que podem ser de vários tipos de carne, peixe, marisco ou até tofu), acompanhadas por um molho, quase sempre à base de amendoim - aliás, este molho foi ganhando o nome do prato, e é comum chamar-lhe simplesmente molho de Satay. A variante de Singapura é deliciosa, até pela sua aparente simplicidade. São espetadas pequenas, de frango, vaca, borrego ou camarão, acompanhadas do molho de amendoim e de uma salada simples, apenas de cebola-roxa e pepino cortados em pedaços, sem tempero. Só isto - e não é preciso mais nada, a não ser a cerveja, que as noites ali são incrivelmente quentes e húmidas.

No entanto, apesar desta simplicidade, os sabores são intensos e, para os conseguir, é preciso encontrar os ingredientes certos e ter algum tempo para deixar a carne marinar. Idealmente, também dá jeito ter um grelhador a carvão mas, à falta de melhor, uma frigideira grill também serve (foi o que usei). A receita foi adaptada de um livro que trouxe de lá - “The Little Singapore Cookbook”, de Wendy Hutton -, que tem uma óptima colecção de receitas locais. A cozinha de Singapura é uma mistura muito interessante das tradições malaias, chinesas e indianas, dando origem a variações e misturas de técnicas e sabores que só a enriquecem - e este Satay é uma perfeita porta de entrada.

Pastéis de nata | Pastéis de nata (Portuguese custard tarts)

19/01/2018

Escrito por | Written by Bruno



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Fazer pastéis de nata em casa é muitas vezes um desafio inglório. É difícil ter um resultado como os das melhores pastelarias, porque a temperatura conta muito. A menos que se tenha um forno de pasteleiro em casa, será impossível atingir as temperaturas de 350° ou mais que garantem os resultados perfeitos que estamos habituados a comer. Mas, apesar de tudo, podemos aproximarmo-nos. E poder ter um pastel de nata quentinho e com o creme no ponto é algo que vai mesmo valer a pena.

A receita que usei vem no Lisboeta, o muito recomendado livro do chef Nuno Mendes, do qual já aqui falei na receita de pão com chouriço e nozes. O livro é mais do que um livro de receitas lisboetas - ou inspiradadas por Lisboa. É também um tratado sobre o dia-a-dia, a cultura e os hábitos da cidade e dos seus habitantes, cheio de textos do próprio Nuno Mendes e fotografias de Andrew Montgomery. Vale bem a pena folheá-lo - e apetece experimentar todas as receitas.

Voltando aos pastéis, o creme é óptimo e isso é logo meio caminho andado. Não fiz a minha própria massa folhada, comprei já feita - mas se quiserem aventurar-se na vossa própria, então avancem e provavelmente o resultado será ainda melhor!

Salmão com molho de alho, limão e manteiga | Salmon in garlic, lemon and butter sauce

16/01/2018

Escrito por | Written by Bruno



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Tal como já aqui escrevi, o salmão é um dos (poucos) peixes que por cá se consegue encontrar facilmente e de boa qualidade. Por isso mesmo, acabo por voltar a ele mais vezes do que provavelmente voltaria se tivesse a diversidade - e frescura - que temos em qualquer mercado de Portugal.

Esta receita foi adaptada de uma que encontrei aqui. É simples e saborosa - o molho de alho, limão e manteiga liga muito bem com o salmão - e usar cebolinha como toque final nunca é uma má escolha. Para acompanhar, não compliquei - juntei uns espargos cozidos em água com um pouco de sal, e ficou um prato que apetece repetir.

Frango com manteiga de amendoim | Peanut butter chicken

12/01/2018

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Encontrei esta receita no site da BBCGoodFood, no qual é comum encontrar boas ideias. Andava à procura de algo diferente, mas simples, e esta receita pareceu-me uma boa escolha. Gosto muito do sabor da manteiga de amendoim neste molho. Não é exactamente um satay (que passará por aqui em breve, na versão que tradicionalmente se come em Singapura), mas é um prato fácil de fazer e cheio de sabor.

Acompanhei com arroz basmati, que é uma óptima combinação.

Frango com cuscuz | Chicken with couscous

09/01/2018

Escrito por | Written by Bruno



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Fiz esta receita num Domingo. Estava a nevar em Londres - começou logo de manhã e manteve-se por boa parte do dia. Apetecia ficar em casa, de aquecimento ligado, sem grandes aventuras pela rua. Mas primeiro era preciso pensar no almoço.

Aproveitei uma pausa na neve para ir num instante ao supermercado. Tinha encontrado esta receita no site Good Food, da BBC, e parecia uma boa ideia: a combinação do frango com as especiarias, o cuscuz, o limão e as azeitonas prometia. Só precisava de meia dúzia de ingredientes e uma hora na cozinha. Comprei o que precisava, voltei para casa antes da neve recomeçar a cair e meti mãos à obra.

Os aromas encheram a casa num instante - e a promessa foi cumprida. O frango estava saboroso, o cuscuz ainda mais. Almoçámos nestes tons de amarelo, enquanto lá fora a rua e a cidade se cobriam de branco. Dias bons.

Cheesecake de romã | Pomegranate cheesecake

04/01/2018

Escrito por | Written by Bruno



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Quis preparar uma sobremesa diferente para a noite da Consoada, passada em família. Lembrei-me de um cheesecake, que era algo que já não fazia há algum tempo. E, já agora, que fosse um cheesecake cozido, que nunca tinha experimentado cozinhar. A cobertura tinha de ter alguma ligação ao Natal, o que me fez pensar imediatamente na romã, um fruto com ligações simbólicas ao Natal e às suas tradições. A ideia estava pronta, só faltava alguma pesquisa - acabei por encontrar esta óptima receita no Mel’s Kitchen Cafe, que saiu perfeita, e que de certeza que utilizarei como base para outros cheesecakes no futuro. Demora algum tempo, e convém começar a ser preparado de véspera, mas vale bem a pena!

Duas notas em relação aos ingredientes: o sour cream (natas azedas) é muito fácil de encontrar em Londres, mas mais complicado em Portugal. Sendo assim, acabei por usar crème fraîche para o recheio, e iogurte grego para a cobertura (porque me enganei nas quantidades e já não tinha crème fraîche suficiente…). Resultou bem, mas mantenho o sour cream na receita em baixo. Em relação ao sumo de romã, tive um problema semelhante - é fácil encontrar garrafas de sumo de romã natural em supermercados ingleses (só mesmo o sumo, sem mais nenhum aditivo), mas complicado em Portugal. Acabei por comprar algumas romãs a mais e por fazer o meu próprio sumo, triturando as sementes com uma varinha mágica e passando num passador de rede fina para retirar as grainhas. Ao todo usei 4 romãs para conseguir as sementes necessárias para a massa do cheesecake, a decoração e o sumo.

Negroni Sbagliato

02/01/2018

Escrito por | Written by Bruno



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A brincar, a brincar, já estamos em 2018 - Bom Ano a todos!

Para ajudar a enfrentar o ano da melhor maneira, parece-me boa ideia começar com um brinde. Para além disso, este cocktail é óptimo para o caso (improvável, eu sei) de vos ter sobrado champanhe da noite de passagem de ano. O Sbagliato ("errado" ou "enganado" em Italiano) é primo do Negroni, de que já aqui falámos, mas leva espumante em vez de gin (diz a lenda que terá sido um erro de um barman no Bar Masso, em Milão, em finais dos anos 60, a dar-lhe a origem e o nome). Pode ser feito com prosecco ou outros vinhos espumantes, mas eu prefiro com champanhe - e sim, no meu caso havia sobras do Ano Novo, por isso foi a escolha ideal.

As proporções do Negroni tradicional são simples: partes iguais de cada ingrediente. Mas num Sbagliato deve dar-se primazia ao espumante - por isso mesmo, uso esta receita com 3 partes de champanhe para 1 de Campari e outra de vermute. Não usei guarnição, mas uma casca ou meia rodela de laranja seriam boas escolhas.