Os dias de Veneza

04/06/2018

Escrito por | Written by Bruno

A semana passada houve interrupção na escola dos rapazes, e resolvemos aproveitar para tirar uma semana de férias. Escolhemos Veneza por algumas razões - é uma cidade tão diferente de todas as outras que seria fácil encantar os miúdos; nós, os adultos, já a conhecíamos, o que nos dava a oportunidade de a explorar de forma mais descontraída, sem aquela pressão turística da “primeira vez”; finalmente, e para o que nos interessa mais neste blog, é uma cidade italiana, rica em tradições gastronómicas.

Falemos, então, de comida. É necessário ter algum cuidado - e, idealmente, algum trabalho preliminar - antes de escolher um sítio para comer em Veneza. Sendo a cidade turística que é, com um rácio elevadíssimo de turistas por habitante, é fácil cair no erro de ficar pelos lugares mais centrais - onde os preços serão absurdos e a qualidade fraca. A solução ideal é explorar a cidade e sair do centro. Veneza presta-se a isso - é pequena, é uma ilha com uma única estrada de acesso, por isso é praticamente impossível alguém se perder. Virar pelas ruas mais estreitas e procurar uma menor densidade de turistas até começar a ver mais habitantes locais é sempre uma boa estratégia, que leva a boas descobertas.

Pizza de speck e cogumelos mistos, na Pizzeria Al Profeta

E o que se come na cidade? Para além do que é esperado numa cidade italiana - pizzas, massas, os óptimos gelados italianos -, a tradição que me pareceu mais interessante foi a dos cicchetti, uma espécie de pequenas tapas, geralmente com uma base de pão, que se comem nos bacari - pequenos bares, muitas vezes sem mesas no interior, que os servem ao balcão. Fomos duas vezes a um óptimo exemplo, o All’Arco, perdido numas ruelas da zona de San Polo, que oferece uma variedade impressionante de cicchetti, todos muito bons - desde combinações de bresaola com queijo de cabra e pesto, aos moscardini (pequenos polvos) ou o tradicional baccalà mantecato (uma pasta feita com bacalhau salgado, como o nosso, ligeiramente cozido em leite e desfeito num almofariz com bastante azeite até obter uma pasta de consistência amanteigada). Explorar estes pratos foi uma maravilha - e deixou-me vontade de experimentar algumas combinações semelhantes em casa.

Prato de cicchetti do bacaro All'Arco


Prato de moscardini, também do All'Arco

Tivemos também oportunidade de experimentar pratos mais comuns para quem conhece a gastronomia italiana - na Osteria al Portego, por exemplo, comemos uns ravioli de alho-francês, queijo Asiago e ricotta fumada que ainda agora, passados já uns dias, me deixam a salivar. Enquanto isso, os rapazes atiravam-se a uma carbonara que estava uma maravilha!

Ravioli de alho-francês, queijo Asiago e ricotta fumada, da Osteria al Portego

Mais do que a comida, o mínimo denominador comum de Veneza bebe-se: é o Spritz, um cocktail facílimo de preparar e completamente omnipresente. Em qualquer esplanada da cidade (e recomendo vivamente a do Caffé Rosso, no Campo Santa Margherita, na zona do Dorsoduro) se vêem pessoas de copo alaranjado (ou avermelhado) na mão, a enfrentar o calor mediterrâneo da cidade. O Spritz é uma mistura de um aperitivo bitter (geralmente Aperol - mais doce e alaranjado - ou Campari - mais amargo e avermelhado), com vinho (em Veneza vi sempre usarem vinho branco, mas há quem prefira prosecco) e um nadinha de água com gás só para acrescentar algumas bolhas. Serve-se com gelo e meia rodela de laranja ou limão. É o acompanhamento ideal para uns quantos pratos de cicchetti e a melhor maneira de entrar no final da tarde e começar a preparar o apetite para o jantar.

O omnipresente Spritz de Aperol em toda a sua glória alaranjada

É sempre complicado voltarmos de férias e regressarmos às rotinas habituais. Mas, para ser mais fácil a transição, cozinhei um pouco de Veneza no fim-de-semana passado - as próximas receitas que publicarei trarão um pouquinho da cidade ao blog, com receitas para um Spritz e para duas variações de cicchetti, fáceis de preparar e que, espero, podem servir-vos de inspiração para inventar muitas outras.

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