Cicchetti de lardo com mel e nozes e de guanciale com queijo de cabra e pesto

06/06/2018

Escrito por | Written by Bruno



Como disse no meu post anterior, esta é a semana de Veneza aqui pelo blog. Tentei recriar a experiência dos cicchetti - pequenas ‘tapas’ venezianas, comidas geralmente ao balcão ou em (poucas) mesas ao ar livre junto aos bacari, os bares que servem estas comidas, em inúmeras variações, acompanhadas com copos de vinho local ou de Spritz.

A ideia dos cicchetti é aproveitar ingredientes locais, em combinações que podem ser muito simples (uma fatia de salame ou presunto sobre o pão) ou mais criativas e elaboradas. Nestes exemplos resolvi aproveitar lardo di Colonnata e guanciale, que trouxe de Veneza, combinando-os com ingredientes que me pareceram complementar bem os respectivos sabores. O lardo é um toucinho produzido na região de Colonnata que usa a gordura das costas do porco, temperada com sal e alecrim e deixada a curar em recipientes de mármore local. Comido em fatias é suave e desfaz-se na boca. Já o guanciale é outro tipo de carne curada, feito com a carne das bochechas do porco - é o ingrediente tradicionalmente usado na carbonara, por exemplo.

Ambos estes ingredientes podem ser difíceis de encontrar, a menos que conheçam um bom importador de ingredientes italianos (sortudos!), mas podem obviamente ser substituídos por outros tipos de charcutaria curada - ou qualquer outro ingrediente que queiram usar. A melhor parte dos cicchetti é serem uma óptima base para improvisar e inventar combinações, por isso vejam esta receita mais como uma inspiração do que propriamente algo para seguir religiosamente.


Os dias de Veneza

04/06/2018

Escrito por | Written by Bruno

A semana passada houve interrupção na escola dos rapazes, e resolvemos aproveitar para tirar uma semana de férias. Escolhemos Veneza por algumas razões - é uma cidade tão diferente de todas as outras que seria fácil encantar os miúdos; nós, os adultos, já a conhecíamos, o que nos dava a oportunidade de a explorar de forma mais descontraída, sem aquela pressão turística da “primeira vez”; finalmente, e para o que nos interessa mais neste blog, é uma cidade italiana, rica em tradições gastronómicas.

A bebida oficial do Verão inglês

24/05/2018

Escrito por | Written by Bruno



Temos tidos alguns dias bons por cá, já a cheirar a Verão. Hoje, nem por isso - o tempo está a ameaçar trovoada, que provavelmente chegará nos próximos dias e a entrar pela próxima semana adentro. No entanto, não estou muito preocupado porque na semana que vem estaremos de férias - e tudo indica que o tempo estará bem melhor por lá... O blog ficará mais parado, mas, se quiserem aproveitar os dias, deixo-vos a receita perfeita para um belo jarro de Pimm's, que é a melhor companhia para dias preguiçosos!

O Pimm's No.1 Cup é uma espécie de licor inglês - em bom rigor, um fruit cup -, feito à base de gin, misturado com ervas e frutas diversas. É doce e aromático, de cor escura, e está por todo o lado assim que o bom tempo começa a ameaçar por cá. Não se bebe puro - é antes a base para o mais próximo que os ingleses têm de uma sangria: enquanto nós usamos vinho para misturar com fruta e gasosa (e mais umas quantas coisas), por cá eles usam Pimm's. O resultado é doce, fresco e agradável - e alcoólico, claro, por isso cuidado. O sabor do pepino e da hortelã combinam perfeitamente com os aromas do licor, fazendo com que um jarro seja muitas vezes pouco, principalmente se tiverem visitas de amigos. E, ainda por cima, é muito fácil de preparar.

Pelo que consigo ver numa pesquisa rápida, as garrafas de Pimm's encontram-se à venda em Portugal (no Corte Inglés, por exemplo, mas não só). Por isso, força - se tiverem dias de bom tempo, experimentem este pedaço de tradição inglesa. Enquanto isso, nós vamos ali até Veneza e já voltamos! :-)


Lulas de churrasco

08/05/2018

Escrito por | Written by Bruno



Sabem aquela sensação de ter um brinquedo novo e não querer largá-lo enquanto não experimentamos tudo o que há para experimentar? Claro que sabem. É exactamente o que se passa comigo e com o barbecue novo que comprámos na semana em que esteve tempo quase primaveril aqui em Londres.

Como é inevitável nestas coisas, assim que comprámos o barbecue as temperaturas caíram a pique, mas eu quis lá saber - se há um brinquedo novo, há que experimentá-lo e, por isso mesmo, voltei a acender as brasas - comecei a exigir em casa que me tratem por REI DAS BRASAS, assim mesmo, em maiúsculas - e resolvi experimentar umas lulas óptimas que tinha comprado recentemente, apesar de até estar a chuviscar nesse dia.

Lembrei-me de acrescentar a mesma marinada que tinha usado nos camarões de que falei aqui - pareceu-me que os sabores do limão, do alho e dos coentros também se adequariam bem às lulas. Não estava enganado - aliás, acho que esta se arrisca a transformar-se na minha marinada-padrão para churrasco, visto que não consigo pensar em muitas coisas que não fiquem a ganhar com esta mistura de sabores. Quanto às lulas, estavam uma delícia. Servimo-las com uma salada de alface, rúcula, batata cozida, rabanetes e pepino, que combinou muito bem. E entretanto as temperaturas voltaram a subir - voltando assim o REI DAS BRASAS ao seu fantástico habitat natural!


Arroz pilaf de borrego com alperces e pinhões

04/05/2018

Escrito por | Written by Bruno



A comida do Médio Oriente interessa-me bastante. Não é uma cozinha que eu conheça a fundo, mas tem ingredientes e sabores aos quais não resisto. Lembrei-me dela e apeteceu-me cozinhar algo que, ainda que não fosse original da região, pudesse pelo menos ter influências - nos ingredientes, nas especiarias.

Pesquisei um pouco e fui dar com uma receita (no site da Good Food) que me pareceu um bom ponto de partida - um arroz pilaf de borrego, feito numa única panela. Parti daí e mudei ingredientes, acrescentando umas coisas e trocando outras. O arroz pilaf (ou pilau) é um arroz geralmente salteado em óleo, azeite ou outra gordura, ao qual depois é acrescentado um caldo, especiarias e os restantes ingredientes - neste caso, há uma série de sabores tradicionais do Médio Oriente (a canela, o cravinho, o cardamomo, o próprio borrego...). Nem todos pertencem às tradições dos mesmos países e nem todos são necessariamente usados desta forma, mas não estava à procura de autenticidade, e sim de sabor, de algo que trouxesse um pouco da região para um prato simples de fazer e que nos enchesse as medidas. E resultou.


Lasagne al forno alla bolognesa

30/04/2018

Escrito por | Written by Bruno


Quando há dias aqui pus a receita de Spaghetti alla Carbonara, não estava à espera que rapidamente se tornasse na segunda receita mais vista de sempre deste blog (ainda assim, não destronou o frango com manteiga de amendoim, que continua a ser a mais vista de todas). Não faço ideia se há uma apetência vossa pelos clássicos italianos mas, se for esse o caso, então aqui têm mais um.

Lasagna é o nome singular (plural lasagne) das placas largas de massa que se usam para intercalar as camadas deste prato. A variante mais conhecida é a Lasagne al forno alla bolognesa, mas há outras - por exemplo, a tradição em Nápoles, onde este prato terá surgido, é a Lasagne di Carnevale, feita com carne de porco, salsichas do mesmo e pequenas almôndegas.

A receita que trago é da tradicional Lasagne alla bolognesa. Adaptei-a há uns anos de um livro que comprei em Itália - o Grande Libro Della Cucina Per Tutti I Giorni, um compêndio de receitas tradicionais de todo o país - e uso-a até hoje. O molho tem menos carne do que se poderia pensar à primeira vista, mas não precisa de mais. O sabor está lá todo, graças ao aipo, à cenoura, às especiarias (a canela aqui é essencial). O béchamel pode ser comprado feito, claro, mas se quiserem arriscar fazê-lo, não é complicado e sabe muito melhor.


Bolinhos do dedo

27/04/2018

Escrito por | Written by Bruno



Desta vez nem devia ser eu a escrever a receita, visto que não fui eu que a fiz. O cozinheiro desta vez foi o meu filho mais velho, de 9 anos, que tem um clube de culinária na escola onde aprende a cozinhar vários pratos. Experimentámos o clube o ano passado pela primeira vez e foi um sucesso - logo na primeira aula, por coincidência, aprenderam a fazer pastéis de nata, que não estavam nada maus!

Uma das receitas que ele mais gostou de fazer foram estes bolinhos - "bolinhos do dedo", como lhes chamamos cá em casa. São uns biscoitos simples de fazer, mas que são óptimos para cozinhar com as crianças, que se divertem a preparar a massa, a moldar os biscoitos, a calcá-los com o dedo e a rechear com o doce. Ah, e a comer no final, claro!


Camarões grelhados

24/04/2018

Escrito por | Written by Bruno



A semana passada tivemos três dias com as temperaturas a rondar os 27º aqui em Londres - provavelmente está o Verão deste ano despachado, pelo menos a julgar pelo que vejo pela janela hoje, com o dia a ameaçar chuva e as temperaturas a não subir acima dos 14 ou 15 graus… Mas foi bom enquanto durou. E fez-nos finalmente comprar algo que ainda não tínhamos e que é essencial neste país quando há alguns (ainda que poucos) dias de bom tempo: um barbecue.

O barbecue é uma tradição inglesa bastante enraizada. Mesmo quem não sabe fazer mais nada na cozinha, rapidamente se transforma em mestre das brasas quando a temperatura sobe. É a altura ideal para convidar amigos, abrir umas cervejas (ou preparar um jarro de Pimm's) e grelhar hamburgers, salsichas, ou qualquer outro tipo de carne que se preze a cozinhar sobre brasas (quase tudo, na verdade). É uma refeição bastante social e, quando bem feita, muito mais saborosa do que usar um simples forno.

Já que íamos estrear o barbecue, resolvemos fazê-lo a rigor: numa peixaria aqui perto encontrei uns camarões-tigre com óptimo aspecto. Pedi para os abrirem, marinei-os já em casa com alguns ingredientes simples e o barbecue fez o resto. Foi um óptimo jantar para começar - e terminar - o Verão inglês!


Alheira no forno com espinafres e ovo

17/04/2018

Escrito por | Written by Bruno



Quando estamos fora, às vezes é das coisas simples que sentimos mais falta. As alheiras são um bom exemplo - tão fácil de preparar quando estamos em Portugal, mas aqui esbarramos inevitavelmente numa complicação: onde comprar as alheiras? Não é que não se encontrem em lojas portuguesas, mas precisamos de ter uma desses lojas por perto, e idealmente que venda alheiras de qualidade, de caça. Nem sempre é fácil.

Felizmente, restam-nos as visitas. A minha sogra passou uns dias connosco e, entre outras coisas, trouxe alheiras. Ficaram umas quantas congeladas - e as restantes foram para o forno, para mim sempre a melhor forma de as cozinhar (bem melhor do que fritá-las, na minha opinião). E não é preciso muita coisa para a refeição ficar perfeita - os espinafres, bem aromatizados com o azeite e o alho, um ovo bem estrelado, algum pão para molhar no ovo. Uma maravilha.


Scones

12/04/2018

Escrito por | Written by Bruno



O scone é uma instituição inglesa por mérito próprio. Aliás, não é à toa que já se popularizou um pouco por todo o mundo - é ideal para um pequeno-almoço ou, melhor ainda, para um lanche. Permanentemente indeciso sobre se há-de ser um pão ou um bolo, o scone não é bem um nem é bem o outro. E, talvez por isso mesmo, ajusta-se perfeitamente a vários acompanhamentos - manteiga, os tradicionais clotted cream e doce (não necessariamente por esta ordem, mas já lá vamos)... Pode ter passas misturadas na massa ou outros tipos de frutos secos - ou não, como na receita que aqui trago, que é simples.

Se nunca arriscaram fazer pão, não se assustem - esta receita não custa mesmo nada. É praticamente só juntar tudo, amassar um pouco e levar ao forno. Em poucos minutos terão uma fornada de scones a sair do forno, quentinhos, e prontos a acompanhar um bom chá. Tenham é cuidado na hora de servir - os scones são ainda hoje a causa para uma das mais curiosas polémicas gastronómicas neste país - a ordem do acompanhamento. É tradição em duas províncias vizinhas de Inglaterra, Devon e Cornualha, servir scones ao lanche - que, consoante a zona, se chama Devon Cream Tea ou Cornwall Cream Tea. Em ambos os casos, os scones acompanham o chá e são servidos com clotted cream (natas coalhadas) e doce. Mas a grande diferença, aquela que cava uma fronteira profundíssima entre ambas as províncias e gera discussões quase mortíferas, é a ordem: em Devon, primeiro cobre-se o scone com as natas e depois espalha-se o doce sobre estas. Na Cornualha, espalha-se primeiro o doce e só depois se cobre este com as natas. E nem pensem em ridicularizar esta questão - para os locais é uma questão de honra e não há entendimento possível.

Para evitar confusões, escolhi uma fotografia do scone assim mesmo: simples, sem nada. Sirvam-nos como preferirem, com ou sem natas, com ou sem doce, por uma ordem ou outra, com manteiga, com queijo, com fiambre - mas experimentem-nos. É que valem mesmo a pena.

Receita adaptada desta, da Allrecipes.


Spaghetti alla Carbonara

06/04/2018

Escrito por | Written by Bruno



Quando publiquei a receita de Spaghetti alla Puttanesca, prometi que haveria de trazer mais umas massas clássicas aqui ao blog. Ora, é difícil encontrar um clássico maior do que a Carbonara, prato romano por excelência, e incrivelmente simples e saboroso (como todas as boas massas devem ser). Não é preciso quase nada - esparguete, guanciale, queijo. Um pouco de pimenta para perfumar. E está feito. Ah - nada de natas, por favor! A Carbonara italiana não as leva, e por cada restaurante que decide juntar natas à sua versão desta massa, há um romano que se atira ao Tibre a gritar os piores insultos que a língua italiana consegue inventar - e nessa área em particular, eles são extremamente criativos.

Mas... guanciale? A Carbonara não leva bacon? Na verdade, é mesmo guanciale, uma carne curada feita a partir das bochechas de porco. O problema é que é muito difícil encontrá-lo fora de Itália. O substituto mais comum é a pancetta - outro tipo de carne curada, mas feita a partir da barriga do porco - ou, na falta dessa, o bacon mais comum. Escolham o que encontrarem, por esta ordem de preferência (na receita abaixo indico pancetta, só porque aqui é quase omnipresente, ao contrário do guanciale, que só se arranja mesmo em lojas especializadas em importação de produtos italianos).

Nota final em relação ao queijo: usei uma mistura de parmesão e pecorino romano, por duas razões. Em primeiro lugar, este é um prato romano, por isso faz sentido juntar-lhe um queijo local. Em segundo lugar, o pecorino romano é uma pequena maravilha. Suave e salgado, ajuda a temperar a massa e torna desnecessária a adição de sal. Se não o conseguirem encontrar, então usem só o parmesão, ajustando a quantidade.

Depois de pesquisar várias versões de receitas, acabei por me guiar por esta interessante análise comparativa do Guardian, que testou várias variações até chegar a uma receita recomendada, que me pareceu bastante bem e acabou por ser a que segui.