Bifes de borrego com alho e limão em conserva

07/09/2018

Escrito por | Written by Bruno



Tal como a receita anterior de arroz de coentros, lima e alho, estes bifes de borrego também vêm do livro ‘Feasts’, de Sabrina Ghayour. As duas receitas em conjunto foram o primeiro prato que cozinhei do livro e fiquei convencido. Os bifes, só por si, ficaram muito saborosos, muito graças à marinada, que ajuda a carne a caramelizar enquanto frita. A combinação com o arroz, com sabores semelhantes, resulta ainda melhor.

O único ingrediente que pode ser complicado de encontrar são os limões em conserva. Muito comuns no Norte de África, são basicamente limões conservados em salmoura, o que lhes suaviza a acidez, mas mantém o sabor forte a limão. Sendo naturalmente salgados, funcionam também como tempero, daí não ser necessário juntar sal à receita. Se não conseguirem encontrar este ingrediente (e não vos apetecer tentar fazê-lo em casa), podem sempre substituir por raspa e sumo de limão - o sabor não será o mesmo, mas é uma aproximação razoável. Nesse caso, não se esqueçam de juntar um pouco de sal para compensar.

Arroz de coentros, lima e alho


Há dias, e um pouco por impulso, que às vezes é a melhor das formas, comprei o livro ‘Feasts’, de Sabrina Ghayour, autora nascida em Teerão e especializada em cozinha de inspiração do Médio Oriente. Já falei aqui do meu interesse na cozinha do Norte de África e Médio Oriente e ao folhear o livro pareceu-me ter boas ideias para experimentar.

Ghayour organiza o livro em termos de menus de festa, com entradas, pratos e sobremesas, com temas específicos, mas claro que podem ser feitos separadamente, ou apenas usados como inspiração para outras combinações. Um bom exemplo é este arroz - no livro é indicado como acompanhamento para bifes de borrego (que também fiz - aqui está a receita), mas pode ser feito para acompanhar muitos outros pratos. É um arroz muito aromático, saboroso e versátil, acompanhando bem borrego, mas também outros tipos de carne.

Sorvete de Spritz

04/09/2018

Escrito por | Written by Bruno



Há receitas que deviam ser proibidas.

Dito isto, ainda bem que não o são, porque seria uma pena não poder provar este sorvete. Mesmo sendo, provavelmente, um dos sorvetes mais perigosos do mundo. Já aqui falei do Spritz - um cocktail nascido em Veneza e ideal para os dias quentes, principalmente se for bebido numa esplanada de um bar veneziano que também sirva cicchetti, os pratinhos de petiscos tradicionais da região. Em Veneza, o Spritz faz-se tradicionalmente combinando vinho branco (embora outras regiões usem normalmente prosecco) com Aperol (um vinho aperitivo, doce e amargo, com um sabor dominante a laranja) ou Campari e um nadinha de água com gás. Só por si é óptimo, mas transformado em sorvete - principalmente nesta versão -, transcende-se.

Esta receita não é minha. Retirei-a da nova edição do “The Perfect Scoop”, do David Lebovitz, de que já aqui falei noutras ocasiões. A edição anterior transformou-se rapidamente na minha Bíblia dos Gelados, a que recorro várias vezes para tirar ideias, inspirações, ou para seguir directamente algumas das suas receitas. Assim, quando soube que estava para sair uma nova edição, com algumas novas receitas, outras revisões e um novo visual, não hesitei. Este sorveete é uma das novidades do livro.

O David Lebovitz usa aqui a combinação clássica dos ingredientes do Spritz (versão Aperol e Prosecco), mas junta-lhe um outro que faz diferença - a toranja. Sendo basicamente uma espécie de laranja amarga, combina muito bem com o Aperol. E sendo uma toranja rosa, ajuda também à cor do sorvete. E que tal é que ele fica? Fica óptimo. Perigosamente óptimo, diga-se, porque apetece comer só mais um bocadinho e só mais outro e depois começamos a notar a cabeça a andar à roda. É que, parecendo que não, o álcool está lá todo - do Prosecco e do Aperol. Por isso, sim, é um dos sorvetes mais perigosos do mundo. Mas também, provavelmente, um dos melhores!


Tagliatelle com açafrão e manteiga com especiarias

19/08/2018

Escrito por | Written by Bruno



Nem sempre as primeiras impressões são as mais correctas. Por alguma razão, quando recebi o livro Plenty, de Yotam Ottolenghi, achei que não era muito a minha praia. O livro é interessante, de receitas vegetarianas, mas folheando-o não encontrei aquelas receitas que nos fazem parar, ler com atenção e ficar com vontade de experimentar.

Durante algum tempo, o livro ficou arrumado na prateleira. Mas um dia voltei a pegar-lhe e resolvi vê-lo com mais atenção, marcando as receitas que queria tentar fazer. E fiquei surpreendido, porque no final tinha uma quantidade enorme de páginas marcadas com post-its, todas com receitas que afinal me fizeram parar e ler com atenção. Como eu já devia saber, às vezes precisamos de pegar nos livros na altura certa, quando nós estamos prontos para eles, sem forçar.

O Plenty é um belo livro - já aqui coloquei umas cebolas recheadas que vieram de lá. São receitas vegetarianas, com inspiração israelita - e do Médio Oriente em geral. Muitas das receitas são simples de fazer, mas sem nunca comprometer o sabor. Esta massa é um exemplo perfeito: é massa. Com cebola picada. Não tem carne, nem marisco, nem queijo, nem nada do que normalmente associamos à massa italiana - é mesmo só massa com cebola picada. Ah, e com especiarias. E são estas que fazem toda a diferença. Acreditem - a primeira vez que fizerem isto vão empratar a massa e pensar "mas isto será bom? é tão simples..." e depois vão provar e os vossos olhos vão abrir-se de espanto e vão querer mais, e mais, e mais... e só no final, quando o prato estiver limpo é que vão conseguir dizer "que maravilha!...". Porque esta combinação é óptima, apesar de tão simples.

O único alerta que deixo é em relação à pimenta caiena. Cuidado com ela, principalmente se nunca a usaram. Esta pimenta é forte. A receita original usa uma colher de chá inteira, eu reduzo para meia e, mesmo assim, já tive "queixas" em relação à massa estar demasiado picante. Sendo assim, ajustem ao vosso gosto. E quanto ao resto, deixem estar como está na receita, que tudo o que está na lista de ingredientes vale bem a pena.

Clafoutis de cereja

14/08/2018

Escrito por | Written by Bruno



Tinha cerejas em casa e não sabia o que lhes havia de fazer - ou melhor, sabia que podia simplesmente comê-las, e eram óptimas, mas cada vez que olhava para a caixa dava-me vontade de cozinhar qualquer coisa com elas. Andei a namorar uma tarte de cereja, à americana, como as que faziam as delícias do agente Cooper no Twin Peaks (e um destes dias ainda hei-de voltar a essa ideia), mas acabou por haver uma espécie de alinhamento dos astros - ou dos blogs… - que me fez decidir por uma receita diferente. É que, por coincidência, o desafio que a Susana e a Lia lançaram para o Sweet World Challenge deste mês foi precisamente um clafoutis de cerejas. Era o sinal que eu precisava para dar destino às minhas.

O clafoutis é uma receita típica francesa, feita sempre com cerejas (ou melhor, pode ser feita com outras frutas, mas então passa a chamar-se flaugnarde, que os franceses não brincam em serviço nestas coisas). A massa tem mais consistência de pudim do que de bolo, pelo menos na variante tradicional, e não é complicada de fazer. Ao comparar receitas encontrei este artigo da Felicity Cloake, que também analisou várias variantes em busca da receita ideal. A minha não difere muito da dela, mas tem algumas diferenças. Uma das principais é a questão dos caroços - tradicionalmente, as cerejas num clafoutis não são descaroçadas. Eu preferi tirar-lhes o caroço (acho mais agradável não ter de estar a trincar e cuspir caroços à sobremesa), mas o caroço é parte importante do sabor - os caroços das cerejas (tal como os pêssegos, os alperces, as ameixas…) dão um sabor amendoado, muito graças ao cianeto que contêm (felizmente não em quantidades suficientes para transformar uma receita num livro de Agatha Christie). Para aproveitar esse sabor, deixei os caroços em infusão no leite, mas podem optar por não o fazer. A propósito do sabor a amêndoa, a essência de amêndoa que usei é opcional, até porque pode não ser fácil de encontrar. No entanto, se tiverem oportunidade, podem acrescentá-la para ajudar a realçar o sabor.

A ginja foi outra alteração. Obviamente que tem de ser de Alcobaça, porque na verdade não há outra :-) (desculpem, malta de Óbidos!). E o melhor é que ficam com uma boa desculpa (como se fosse necessário) para depois acompanharem o clafoutis com um cálice de ginja - combina que é uma maravilha!…

Mousse de chocolate

09/08/2018

Escrito por | Written by Bruno



Mousse de chocolate - eis um clássico que ainda faltava por cá. É raro lembrar-me dele mas quando nos encontramos é difícil resistir. Apeteceu-me experimentar e encontrei uma receita num livro da cadeia de restaurantes Leon (Leon: Ingredients and Recipes) que me pareceu interessante. Adaptei-a ligeiramente (juntei um pouco de açúcar às gemas e não usei licor de laranja - se quiserem adicioná-lo, basta juntar ao mesmo tempo que juntam o café à mistura de chocolate e claras).

E pronto - que mais se pode dizer sobre mousse? É um clássico, e os clássicos não se discutem. Melhor ainda: tem chocolate. Tudo fica melhor com chocolate. Vá, corram a experimentar. E se quiserem, convidem-me - eu ajudo a rapar as taças no final!

O Verão numa salada

07/08/2018

Escrito por | Written by Bruno



A vaga de calor que tem afectado toda a Europa nos últimos dois meses tem feito deste o Verão britânico mais prolongado desde há muito tempo. É tão fora do normal ter tantas semanas de bom tempo que toda a gente tenta aproveitar ao máximo - os barbecues têm mais uso que o normal, convidam-se amigos, come-se no quintal - ou em casa com janelas bem abertas.

É altura de comidas frescas, de encher uma mesa com várias coisas e deixar cada um servir-se do que lhe apetecer, com vinho branco fresco, cerveja ou um jarro de Pimm's a acompanhar. E esta salada é uma bela opção - está todo o Verão aqui dentro. É fresca, é colorida, tem a acidez doce da lima e o perfume dos cominhos, a suavidade do abacate e o estaladiço da cebola, tudo junto num acompanhamento que vai bem com tudo. A sério!

Bolo de alperce, amêndoa e canela

01/08/2018

Escrito por | Written by Bruno



Todos os dias são bons para fazer um bolo, principalmente se tiverem fruta à mão e não souberem o que lhe fazer. Este bolo leva alperces, mas facilmente os podem substituir por pêssegos ou ameixas. Todos combinam bem com as amêndoas e a canela - e uma fatia ainda morna, com uma colherada de iogurte natural fresco ao lado, é a escolha ideal para um lanche de fim-de-semana.

A receita é adaptada do livro Sweet, de Yotam Ottolenghi e Helen Goh, que já visitámos várias vezes neste blog (e que voltaremos sem dúvida a visitar). É simples de fazer, não demora muito e fica bonito e muito saboroso - não é preciso mais nada, pois não?...

Frango grelhado com pimentão-doce

25/07/2018

Escrito por | Written by Bruno



Já foi há umas semanas. “Comprei frango para o jantar. Se tiveres tempo podemos fazer no grelhador”. Vi a mensagem e pareceu-me bem, porque iria ter tempo e porque Londres tem estado a atravessar uma rara vaga de calor há já dois meses (eu sei, eu sei, em Portugal quase não tem havido Verão, mas por cá arrisca-se a ser o Verão mais quente desde que há registo), que faz com que apeteça usar o barbecue. E já não o usávamos há algum tempo.

A receita foi extraordinariamente simples - misturar todos os ingredientes para o tempero, cobrir bem o frango com eles, aquecer as brasas e grelhar. E ficou uma pequena maravilha, com o tempero no ponto. É um óptimo tempero para usar com outros tipos de carne - e para usar como base, juntando ou retirando coisas consoante o gosto ou os ingredientes que estiverem à mão.

O primeiro ano

19/07/2018

Escrito por | Written by Bruno

Este é o centésimo post neste blog - e, por pura coincidência, calhou num dia especial. É que, não sei bem como, mas parece que hoje celebramos o primeiro aniversário do Ponto de Espadana - o tempo passa mesmo a correr quando nos estamos a divertir!

Não preparei nenhuma receita especial de aniversário, mas posso pelo menos dizer que tem sido um prazer voltar a escrever e publicar receitas. Mais do que tudo, tenho cozinhado muito mais, o que me tem feito descobrir ingredientes e formas de cozinhar novas, bem como voltar a experimentar receitas nas quais já não pegava há muito tempo. E tem sido bom ver-vos desse lado e receber feedback, seja aqui no blog, ou em comentários no Instagram ou Facebook.

Se este ano passou assim tão rápido, imagino que o próximo passe num instante também, por isso não me vou alongar muito se não depois fico sem nada para escrever daqui a um ano…

Deixo-vos apenas, a nível de curiosidade, as receitas mais populares neste primeiro ano, divididas entre pratos principais, sobremesas e cocktails - ideal para tirarem uma receita de cada grupo e prepararem um jantar comemorativo! Se o fizerem, partilhem fotos - ou convidem-me! :)

No topo dos pratos principais não tive grande surpresa: o frango com manteiga de amendoim tem estado consistentemente no topo da lista - e ainda bem, porque é uma receita óptima e simples de preparar:



Em termos de sobremesas, vocês preferiram receitas mais tradicionais, incluindo duas da minha série sobre sobremesas tradicionais de festas de aniversário dos anos 80, intercaladas com o Tiramisù - que, para dizer a verdade, provavelmente seria tradicional nas festas dos anos 80 em Itália, por isso não fica muito a destoar:



Finalmente, nos cocktails, parece-me ter havido uma grande aceitação da tradição britânica, com o Pimm’s a liderar, seguido de duas versões do Negroni, a mostrar que é um dos cocktails mais populares de momento:



E pronto - vamos a mais um ano! Obrigado por continuarem por aí! :)

Guisado de borrego com amêndoas

16/07/2018

Escrito por | Written by Bruno



Quando aqui publiquei a receita de arroz pilaf de borrego com alperces e pinhões, referi o interesse que tinha pela comida do Médio Oriente - devia ter estendido a zona geográfica para incluir também o Magrebe, que tem algumas semslhanças, apesar de muitas características próprias. É uma cozinha que conheço menos do que gostaria, mas que tem sabores que me fascinam.

Esta receita vem de um livro de receitas marroquinas do autor inglês John Gregory-Smith. O livro chama-se Orange Blossom & Honey e reúne receitas que Gregory-Smith recolheu em Marrocos, muitas delas de comida de rua ou receitas tradicionais berberes. Não vou jurar pela autenticidade das receitas, até porque nunca estive em Marrocos, mas posso pelo menos garantir o sabor. No caso deste borrego, o sabor é incrível. As especiarias não são difíceis de encontrar - colorau, gengibre, açafrão-das-índias, açafrão, pimenta, tudo coisas que os portugueses se habituaram a usar há séculos -, mas a sua combinação com o borrego, e o tempo longo de cozedura, para dar tempo não só para a carne ficar a desfazer-se na boca mas também para os sabores se intensificarem no molho, dá um resultado impressionante.

É seguramente uma daquelas receitas às quais voltarei umas quantas vezes - basta planear com tempo suficiente. Acompanhámos com um arroz basmati aromatizado com limão (pouco marroquino, eu sei, mas não combinou nada mal!)